sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ANO NOVO, OLHAR PARA A ESPERANÇA


Chegamos ao fim de 2010.
Sei que todas as pessoas, durante este ano, tiveram momentos bons e ruins. Seria praticamente impossível que alguém passasse apenas por situações agradáveis e felizes, assim como o inverso também é bastante difícil.
O importante é saber que, em todos os momentos, tenham sido bons ou ruins, Deus esteve conosco e nos ajudou a superar as dificuldades, tanto que estamos concluindo um ano e iniciando outro.
Durante 2010, a exemplo das demais pessoas, enfrentei situações complicadas, difíceis, tensas, tristes, desanimadoras, que demonstraram minha fraqueza humana. Mas, felizmente Deus nunca me abandonou, e as tempestades sempre foram acalmadas, vindo a bonança pouco tempo depois. O aprendizado sempre foi muito bom.
Em 2010 também experimentei momentos felizes, agradáveis, animadores. Dou graças a Deus por cada um deles.
A forma como enfrentamos os problemas no ano que passou diz bastante sobre nossa fé. Muitas vezes professamos fé em Deus, dizemos que Ele pode tudo, e que com Ele não precisamos temer nada. Entretanto, ao primeiro sinal de tormenta nos desesperamos e ficamos desorientados, sofrendo mais do que deveríamos.
Ora, a angústia e a ansiedade diante de dificuldades não combinam com a fé. Isso porque a fé leva a descansar seguro, sabendo que, mesmo com ventos fortes contrários, uma palavra de Deus é suficiente para que tudo se acalme. A fé não nos livra de passarmos pelo furacão, mas ela nos mantém firmes na Rocha Eterna, e quem está na Rocha não desmorona, pelo contrário, permanece inabalável e cresce com as tribulações.
O que ocupa nossas mentes é fundamental para definir os rumos de nossas vidas. Há pessoas que, vindo uma situação ruim, ficam concentradas naquilo que é negativo, começam a alimentar suas mentes apenas com pensamentos negativos, aumentando em muito os efeitos do problema, que, não raras vezes, nem é tão grande assim, mas vai se agigantando.
Acho que muitos dos que leem este texto já passaram pela experiência de, ao se encontrarem um pouco tristes ou desanimados, começarem a pensar nos motivos para a tristeza ou o desânimo, e, quando percebem, estão no fundo do poço, em um estado muito pior do que o inicial.
Um abismo chama outro abismo.
Devemos fazer como o profeta Jeremias: “quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações 3.21).
Jeremias tinha diante de si uma situação calamitosa. O povo judeu estava cativo na Babilônia, passava fome, sede, os pais entregavam as filhas em troca de alimento, mães comiam os próprios filhos para não morrerem de fome (Lm 4.10), todos sofriam demasiadamente, não tinham mais liberdade, não conseguiam mais colher o que plantavam, havia grande desespero.
O profeta Jeremias chegou a dizer que sua esperança no Senhor havia morrido (Lm 3.18).
Ora, se Jeremias continuasse a pensar apenas nos motivos do sofrimento, com certeza ele chegaria a um ponto em que não aguentaria mais, pois sua mente não teria mais nenhum sinal de esperança.
Assim, o profeta concluiu que era necessário mudar o foco. Por pior que fosse a situação, havia necessidade de ocupar a mente com pensamentos que pudessem fazer renascer a esperança, dando novo alento.
Jeremias se lembrou do único que pode dar esperança verdadeira: Deus, e de alguns de seus atributos: misericórdia (3.22); fidelidade (3.23) e bondade (3.25).
Da mesma forma nós, em vez de ficarmos remoendo mágoas, sofrimentos passados, situações que nos fizeram chorar ou causaram discórdia, devemos concentrar nossos pensamentos em tudo quanto Deus já fez em nossas vidas, em todas as bênçãos que recebemos.
Para uns a bênção foi ter se casado neste ano; para outros, foi um novo emprego; outros, um filho que nasceu; a compra de um carro ou uma casa; aquela viagem de férias; a cura de uma enfermidade; o aumento no salário; e até as coisas que parecem mais simples, mas que são bênçãos de Deus: o alimento diário, a água, a saúde, o ar que respiramos, nossa família, o teto que nos abriga, etc.
Revolvendo nossas mentes vamos encontrar muitos motivos para agradecer a Deus e renovar nossas esperanças.
Por isso, desvie seu pensamento daquilo que leva você para baixo, e comece a pensar no que pode lhe fazer subir, ficar motivado, alegre, disposto, confiante.
Cultive um coração grato. Quem agradece sempre a Deus pelo que possui e recebe está pronto para receber mais bênçãos. Mas, aquele que só vive reclamando, consegue apenas mais motivos para reclamações, pois não está em condições de reconhecer as bênçãos de Deus.
Esqueça a murmuração e agradeça. "Em tudo dai graças" (1 Tess 5.18), é o que nos orienta a Bíblia.
Que Deus continue nos abençoando em 2011, e nos ensine a sermos gratos e amorosos, pois a gratidão e o amor podem mudar vidas. Experimente.

Em Cristo Jesus, grato por poder iniciar mais um ano na força do Senhor.

José Vicente
31.12.2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A MISERICÓRDIA DE DEUS INCOMODA VOCÊ?


Texto base: 2 Reis 5.19-27

Há pessoas que ficam muito incomodadas com o fato de Deus usar de misericórdia para com pessoas consideradas indignas aos olhos humanos.

No texto bíblico acima indicado vemos um exemplo bem claro disso. Naamã, um gentio, alguém de fora da aliança divina com Israel, e ainda por cima comandante do exército da Síria, que muitas vezes atacou Israel e prevaleceu, levando israelitas cativos, foi contemplado pela Graça de Deus e ficou curado da lepra.

Geazi, discípulo do profeta Eliseu, ficou indignado ao ver uma pessoa como Naamã recebendo um milagre de Deus gratuitamente. Afinal, aquele homem não era digno de receber misericórdia, pois ele era um pecador impuro e, talvez, sua doença fosse até merecida.

Provavelmente com isso ocupando seus pensamentos, dentre outras coisas, Geazi resolveu que o milagre feito por Deus a Naamã não poderia ser gratuito, mas haveria de ser cobrado um preço, pois um gentio odiável como aquele homem não tinha méritos para receber o favor de Deus. Geazi sim, era um israelita, estava seguro pela aliança que Deus fizera com o Seu povo, e se julgava merecedor não apenas da Graça de Deus, mas também de recompensas vindas dos homens.

Pobre Geazi! Aprendeu de uma forma terrível que a Graça de Deus não depende de merecimentos humanos, e que Deus não pensa como nós, não está no nosso nível limitado de entendimento, e pode fazer o que quiser, a quem quiser, quando quiser.

E de repente, lá estava Geazi todo leproso. A mesma doença que o indigno Naamã tinha anteriormente, e da qual fora curado por Deus, agora estava sobre o “justo” Geazi, integrante da aliança divina, “defensor da verdade e da justiça.”

O comportamento de Geazi pode ser visto hoje em dia em muitos de nós, crentes em Deus, que estamos sob a aliança feita no sangue de Cristo derramado na cruz.

Pense bem! Você nunca se pegou alinhavando pensamentos de crítica ao ver um “ímpio” ser contemplado com a Graça de Deus? Seja sincero.

Quando você fica sabendo que aquela pessoa considerada por você como totalmente indigna da Graça de Deus, seja um pecador incrédulo e resistente, ou um bandido que vitimou muitas pessoas, ou uma prostituta, ou aquele sujeito que já lhe causou muitos prejuízos, recebeu a cura para uma doença, um livramento em um acidente, ou qualquer outra ação divina e converteu (ou ainda não), você fica feliz?

Se a resposta foi sim, parabéns. Se não, melhor repensar sua vida cristã.

A Graça de Deus não depende de merecimentos humanos e não está atrelada à nossa escala de valores. Aliás, se Deus fosse analisar nossos méritos para poder nos abençoar, nossa situação não seria das melhores, e talvez percebêssemos que nosso saldo estaria bastante negativo, não nos permitindo usufruir nem mesmo de uma gota de bênção.

O fato é que todos os seres humanos estão na mesma situação perante Deus: “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23).

Desta forma, Naamã realmente não merecia o favor divino, mas Geazi também não. Ambos eram pecadores, com a diferença que Geazi era crente, estava inserido na aliança de Deus com Israel, enquanto Naamã era um gentio.

Mas acontece que Deus só fez aliança com Israel por misericórdia. Esse povo foi formado por Deus, recebeu Suas leis, Suas promessas, contava com livramentos incríveis, mas nada disso era por merecimento, e sim porque Deus resolveu usar de misericórdia.

O mesmo ocorreu com Naamã. Deus olhou para ele e usou de misericórdia.

Isso também ocorreu conosco, os que já cremos em Deus e fomos incluídos na aliança eterna feita por Cristo com seu próprio sangue. Nós não éramos melhores do que ninguém. Todos transgredimos as leis de Deus, falhamos, desobedecemos, já fomos pessoas piores do que somos hoje, mas mesmo assim Deus foi misericordioso e nos alcançou com Sua Graça.

Não podemos, portanto, agir como Geazi e querer definir quem pode ou não ser abençoado por Deus. Ora, os líderes religiosos dos tempos em que Jesus esteve aqui como homem também tentaram fazer isso, pois se consideravam dignos do favor de Deus, devido a sua religiosidade.

A eles Jesus disse: “Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom. Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro.” (Lucas 4.25-27)

A sequência dessa narrativa de Lucas mostra que as pessoas que ouviram isso se enfureceram com Jesus e o expulsaram da cidade, querendo até mesmo matá-lo, afinal, era um absurdo comparar israelitas com gentios, e, pior ainda, dizer que gentios poderiam preceder a israelitas quanto à Graça de Deus.

Bem, nós não somos fiscais de Deus nem Seus conselheiros. Não temos o direito de julgar quem é ou não merecedor das bênçãos de Deus. Quem abençoa é Ele, que também escolhe a quem quiser.

Paulo, apóstolo de Jesus, compreendeu essa verdade e a ensinou em sua carta aos Romanos:

“Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Pois ele diz a Moisés: 'Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.' Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.” (Romanos 9.14-16)

Embora o texto bíblico seja claro, muitas pessoas têm dificuldades em aceitar a liberdade de Deus para usar de misericórdia com quem Ele quiser. Paulo, que escreveu essa maravilhosa verdade, foi um felizardo escolhido por Deus para ser salvo e muito abençoado, afinal, antes ele era um religioso perseguidor da Igreja, que prendia, espancava e consentia com a morte de cristãos.

Seria Paulo merecedor da Graça de Deus? Com sangue de cristãos em suas mãos, ele seria o mais improvável homem a ser alcançado pela misericórdia divina. Mas, nossa lógica não funciona quando o assunto é Deus. Ainda bem!

Que fazer, então? Nada além de exultarmos por termos sido alvo da Graça de Deus, e também porque Ele continua alcançando pessoas as mais diversas, transformando suas vidas e lhes concedendo a salvação, unicamente por Sua Graça (Efésios 2.1-10).

Em vez de ficarmos incomodados ao vermos pessoas “indignas” recebendo misericórdia divina, alegremo-nos, pois nós também, em nossa indignidade, fomos salvos. E para Deus não há pecadinho ou pecadão, portanto, todos os seres humanos estão no mesmo 'balaio” até que sejam resgatados por Deus.

Que a Graça de Deus seja abundante em nossas vidas e nos permita enxergar além de nosso reduzido universo individual e egoísta.

José Vicente
02.12.2010