Texto Base: Mateus 13.1-9 e 18-23 (Parábola do Semeador)
Nesta
passagem vemos Jesus, após dar respostas sábias e perturbadoras aos líderes
religiosos que desejavam encontrar motivos para acusá-lo e prendê-lo, fazendo
algo que lhe era bastante rotineiro: ensinando às multidões.
Jesus
vinha pregando as verdades do Reino de Deus, e sua audiência era composta por gente
do povo e por líderes religiosos, doutores da Lei, homens de elevado saber. Mas
eram justamente estes que se opunham a Jesus, e sempre recebiam respostas contra
as quais não tinham argumentos.
Nesse
cenário, Jesus lança uma parábola que ilustra a reação das pessoas diante do anúncio
das verdades do Reino de Deus de uma forma diferente daquela que vinha sendo ensinada
até então. Era a mensagem autêntica, libertadora, que tinha o poder de dar vida
a quem a recebesse e a guardasse, mas que também condenaria aqueles que a rejeitassem,
pois o cerne da mensagem era o próprio Jesus, o único Caminho para a Vida Eterna.
O
que Jesus fala nesta passagem é aplicável às pessoas que ouvem o Evangelho pela
primeira vez, mas também se aplica àqueles que já estão inseridos no meio do
povo de Deus, afinal, o ministério de Jesus foi desenvolvido entre os judeus.
Ele próprio disse que veio resgatar as ovelhas perdidas da Casa de Israel.
Logo,
Jesus não estava falando a pessoas que ignoravam a Palavra de Deus, mas a
crentes.
Portanto,
os 4 (quatro) tipos de terreno indicados por Jesus nessa parábola podem estar
presentes tanto fora como dentro da Igreja. Sim, é possível que existam crentes
que se enquadrem em algum dos tipos mencionados por Jesus, e nosso desejo é de
que a maioria esteja no quarto exemplo.
É
interessante notar que, se formos considerar a questão do ponto de vista
matemático, teremos apenas 25% de pessoas que recebem a Palavra e frutificam,
enquanto 75% permanecerão sem frutos e distantes do Reino de Deus.
Isso
significa que, a cada 100 pessoas que ouvem a Palavra, apenas 25 respondem de
forma positiva e passam a ter uma vida transformada, mas 75 continuam suas
vidas sem experimentarem as glórias celestiais.
Essa
verdade pode nos trazer preocupação, por causa da grande quantidade de pessoas
que não são impactadas pela mensagem do Evangelho, que prosseguem sem Cristo.
Todavia nos traz também a certeza de que o que vemos é o cumprimento das
Palavras de Jesus, e que isso não depende dos nossos esforços pessoais no
convencimento de quem ouve, pois somente o Espírito Santo é que vai realizar
esse trabalho nos corações dos escolhidos.
Nosso
objetivo, porém, não é julgar as outras pessoas e tentar enquadrá-las em uma
das categorias listadas por Jesus. Antes, devemos olhar para nós mesmos e analisar
onde é que nos encaixamos, pois embora sejamos crentes em Jesus, precisamos ter
a certeza de que não estamos nos enganando, e de que estamos frutificando como
o Mestre disse que aconteceria.
Vamos
analisar as quatro características que marcam os tipos de solos apresentados
por Jesus.
1)
Falta de entendimento (vv. 4 e
19)
Durante a história de Israel
narrada na Bíblia, vemos muitas vezes que grande parte do povo tinha uma enorme
dificuldade em entender a mensagem de Deus. Era como se tudo o que o SENHOR
ensinasse caísse rapidamente no esquecimento, não encontrando guarida nos
corações e, via de consequência, sem provocar mudança na vida de quem ouvia.
No contexto da passagem lida,
vemos que principalmente os líderes religiosos daquele tempo, apesar de serem
profundos conhecedores da Lei de Deus, não a compreendiam, embora eles próprios
se considerassem sábios e mestres da Lei. Eles achavam que conheciam a vontade
de Deus, mas seu conhecimento era limitado à letra da Lei, às regras, nunca
alcançaram a essência de tudo quanto Deus ordenara por meio de Moisés.
A falta de entendimento não está
ligada à inteligência, porque não é com o intelecto que se discernem as coisas
espirituais, como afirmou Paulo:
“Ora, o homem natural não aceita
as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las,
porque elas se discernem espiritualmente.” (1Cor 2.14)
E tudo o que Jesus ensinava era
rejeitado por esses homens, justamente porque eles não compreendiam a mensagem
do Reino de Deus. E por que eles não compreendiam? Por que muitas pessoas hoje
continuam não compreendendo? Podemos listar algumas causas:
a)
Uma
das causas era a sua arrogância, a
sua convicção de que conheciam toda a vontade de Deus e que não seria possível
alguém saber mais do que eles e lhes trazer algum ensinamento. Aqueles líderes
eram tão cheios de si que não havia espaço para considerarem a possibilidade de
que não soubessem tudo. Então, com o coração repleto de orgulho, de soberba,
não aceitavam qualquer palavra que não estivesse de acordo com suas opiniões.
Eles nem ao menos cogitavam meditar no que era ensinado por Jesus, pois isto
implicaria em assumir que poderiam estara errados em suas interpretações.
O
orgulho é um veneno que continua impedindo muitas pessoas de compreenderem a
Palavra de Deus. Elas estão de tal modo presas às suas próprias verdades, consideradas
inquestionáveis e imutáveis, que não permitem nem mesmo pensar na hipótese de
que suas opiniões estejam equivocadas.
Pessoas
orgulhosas estão cheias do saber, julgam que suas opiniões são melhores, suas
atitudes são melhores, sua forma de ver as coisas é a mais correta, e a Palavra
de Deus deveria se amoldar às suas concepções.
Essas
pessoas não conseguem compreender a mensagem do Evangelho. Elas não entendem o
motivo de necessitarem de salvação. Não entendem como é possível ter a salvação
pelo ato de um homem que morreu milhares de anos atrás, assim como não
compreendem o mistério da ressurreição. Não compreendem que Deus não aceita
seus esforços pessoais na tentativa de alcançar a vida eterna, porque o único
Caminho para a Vida Eterna é Jesus. Não compreendem o sentido da Igreja como o
Corpo de Cristo, muito menos a necessidade de santidade para aperfeiçoamento e
obediência à vontade de Deus.
O
orgulhoso não entende que é impossível se autojustificar. Ele não compreende o amor
de Deus, e assim não consegue usufruir desse amor.
O
orgulhoso pode ler a Bíblia inteira, mas não compreenderá a sua mensagem. Ele
poderá recitá-la de capa a capa, mas continuará sem entendimento.
O
orgulhoso não tem disposição para ser trabalhado pelo Espírito Santo. Ele não
busca o entendimento. É o oposto do Eunuco descrito em Atos 8.26-38, pois este
não estava entendendo as Escrituras, todavia tinha sede de compreendê-las,
então Deus enviou Filipe para instruí-lo.
O
coração humilde está aberto à instrução, mas o soberbo julga saber tudo.
b)
Outra
causa da falta de compreensão quanto à Palavra reside no fato de que muitos não pertencem ao rebanho de Jesus.
Em mais de uma oportunidade Jesus afirmou que Seus ouvintes não entendiam o que
Ele falava porque não eram de Deus ou não eram Suas ovelhas, conforme
transcrição abaixo:
“Quem
é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não
sois de Deus.”
(João 8.47)
“Mas
vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a
minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.” (João 10.26-27)
Quem
não é ovelha de Jesus ouvirá a Palavra e não a compreenderá. Pode até ter
simpatia pela mensagem do Evangelho, mas sem entendimento, e jamais se firmará,
assim como não frutificará.
2)
Superficialidade (vv. 5-6 e
20-21)
Enquanto muitos não entendem a
Palavra, há outros que a recebem com alegria, têm empolgação, todavia isso não
passa de uma manifestação emocional, visto que, tão logo comecem as pressões e
perseguições por causa da Palavra, abandonarão tudo e voltarão à vida de antes.
Essas são pessoas que vivem na
superficialidade, não se aprofundam no relacionamento com Deus, e se tiverem
que enfrentar alguma adversidade por causa da Palavra, não conseguem permanecer
firmes, justamente porque não firmaram raízes, ou seja, apenas tiveram um
contato de “leve” com o Evangelho e com Jesus, sem assumirem um compromisso
verdadeiro de buscar conhecimento, santidade e relacionamento com o Salvador.
Uma pessoa superficial não recebe
alimento que permita o seu fortalecimento e crescimento. Suas raízes não
penetram no solo da fé, ela se mantém em cima do solo, e facilmente é arrancada
pelos ventos que sopram.
Pessoas superficiais podem
conhecer muitas filosofias, saber muitas coisas, mas não conseguem manter uma
relação firme e autêntica com Jesus. Não O tratam como Seu Salvador e Senhor, mas
apenas como alguém que tinha uma bonita filosofia de vida.
E desta forma, não há como
frutificar. A Palavra não se desenvolve em seu coração, a fé é frágil e se
esvanece facilmente. Seus lábios não exaltam o Deus Altíssimo, porque, como diz
a Escritura, “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt. 12.14).
Quem é assim não desenvolve
confiança em Deus, antes, continua acreditando na força humana. Sua
superficialidade faz com que seja levado por qualquer vento de doutrina.
3)
Materialismo (vv. 7 e 22)
A semente que cai entre os
espinhos e é sufocada se refere aos que ouve a Palavra, mas não têm capacidade
de renúncia. Seu coração está firmado nas coisas terrenas, não há espaço para
deixar algo de lado a fim de viver com maior intensidade para Deus.
Um exemplo bíblico disto é o
jovem rico que se achegou a Jesus para saber como faria para herdar a vida
eterna. Jesus lhe falou da observância dos mandamentos, ao que ele respondeu
que isso fazia desde a mocidade. Mas quando Jesus lhe disse que era necessário
vender suas muitas propriedades e distribuir entre os pobres, ele foi embora,
pois seu coração estava firmado nas coisas terrenas, e não havia disposição
para renunciar a nada.
Renúncia é algo extremamente
difícil. Deus não condena as riquezas adquiridas com o nosso esforço e a bênção
do próprio Deus, todavia a lista de prioridade do cristão não deve ser a mesma
que o mundo segue.
Para o mundo, as maiores
prioridades são as satisfações pessoais, seja por meio do dinheiro, do poder,
da influência, da posição social. A filosofia do mundo ensina a buscar em
primeiro lugar sua própria satisfação. O ser humano é o centro. Suas vontades
devem ser satisfeitas.
Pessoas que seguem essa
filosofia, ouvem a Palavra e até simpatizam com ela, congregam em alguma
denominação, mas não pensarão duas vezes se tiverem que escolher entre uma
atividade que lhes renda dinheiro e um trabalho da Igreja: optarão pelo
dinheiro.
Tais pessoas formam vários deuses
para si: dinheiro, status, comida, trabalho,
viagens, bens materiais, etc. E é óbvio que não há como servir a Deus e
continuar adorando a outros deuses!
“Então Elias se chegou a todo o
povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus,
segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.” (I Reis 18.21)
O materialismo sufoca a Palavra
que foi semeada, porque a pessoa não tem tempo para o cultivo dessa Palavra,
está muito ocupada cuidando das coisas materiais. Para alguém assim, a maior
preocupação é com as coisas deste mundo, e não pensa com seriedade no seu
destino após a morte física.
Trata-se de alguém que pode até
passar a vida toda dentro de uma igreja, participando de cultos aos domingos,
fazendo ofertas generosas, todavia no restante da semana parece não haver Deus
em sua vida. Ela não frutifica, não demonstra arrependimento real, não é
caridosa, não sabe perdoar, não vive com integridade e retidão, não manifesta o
fruto do Espírito.
4)
Compreensão e mudança de vida
(vv. 8-9 e 23)
O quarto tipo de solo representa
os 25% que vão frutificar. Esses são os que recebem a Palavra e a compreendem. Essa
compreensão faz com que olhem para si mesmos e reconheçam sua condição de pecadores
necessitados da Graça de Deus. Isto as leva a se humilharem sob a poderosa mão
de Deus, entregando-se aos cuidados do Pai.
São aquelas pessoas que firmam
compromisso verdadeiro com o Senhor Jesus, e que resistem diante das
tempestades, das perseguições, reconhecem o valor supremo das riquezas
celestiais em Cristo, tendo capacidade de renunciar a tudo o que possa
comprometer seu relacionamento com Deus.
Jesus disse que esse grupo
frutifica a 100, 60 e 30 por um. São pessoas que manifestam em sua vida as
marcas da fé cristã. Quem as conhece sabe que pertencem a Cristo, porque suas
palavras, suas atitudes, seu estilo de vida demonstram isso explicitamente.
Essas pessoas não apenas
compreendem a Palavra, mas se esforçam por vivê-la em seu dia a dia. Não são
perfeitas, mas caminham rumo à perfeição.
São pessoas que compreendem o
tamanho do perdão que receberam, e se empenham para perdoar aos que as ofendem.
Agem como pacificadoras, lutam pela unidade do Corpo, cultivam a humildade,
reconhecem seus erros, caminham na dependência do Altíssimo, manifestam o Fruto
do Espírito.
Quem se enquadra nessa categoria
de solo, não se contenta com um relacionamento superficial com Jesus, pois
procura maior intimidade pela oração. Não se satisfaz em ouvir um sermão aos
domingos, mas busca alimento na Palavra todos os dias.
CONCLUSÃO
Jesus nos mostrou um retrato real
da condição do ser humano em relação à mensagem do Reino de Deus. Muitos a
ouvem, mas poucos a compreendem e atendem ao seu chamado.
Os números não devem ser a nossa
preocupação. O que deve atrair a nossa atenção é a condição de cada um de nós,
que professamos nossa fé em Cristo. Precisamos descobrir em qual das quatro
categorias de solo nós estamos enquadrados.
E, pela misericórdia de Deus, que
estejamos na quarta categoria, que nosso coração seja o solo fértil onde a
Palavra foi semeada e já frutificou, produzindo transformação em nossas vidas e
nos conduzindo ao Reino de Deus.
Que frutifiquemos abundantemente,
visto que desta forma nós seremos proclamadores da mensagem do Reino onde
estivermos, semeando a semente que é a Palavra de Deus, e glorificando nosso
Pai Celeste.
“Por isso, cingindo o vosso
entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo
trazida na revelação de Jesus Cristo. Como filhos da obediência, não vos
amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo
contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós
mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque
eu sou santo.”
(1Pe 1.13-16)
Que Deus trabalhe nossos corações
a fim de que continuem a ser solos férteis para a frutificação da Palavra.
José Vicente
09.04.2017
Que bençao que possamos sempre estar na 4 categoria
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