domingo, 26 de fevereiro de 2017

FÉ SEM EXIBICIONISMO


Texto base: Mateus 6.1-18

A passagem lida se encontra dentro do conhecido Sermão do Monte, por meio do qual Jesus ensinou aos seus ouvintes como deve ser o caráter de um cidadão do Reino de Deus.
Esse sermão teve início no capítulo 5 e se prolongou até o capítulo 7, e está repleto de instruções do Mestre quanto à forma de viver de todo aquele que pertence a Deus. O cidadão do céu deve rejeitar o modo de vida que seja contrário à vontade de Deus e que esteja apenas em acordo com os padrões do mundo, porque ele não pertence a este mundo.
Trata-se, também, de um ensinamento maravilhoso de Jesus quanto ao correto sentido da Lei de Deus, de como ela deve ser vivida e interpretada, não conforme uma religiosidade vazia e superficial como aquela dos fariseus e mestres da Lei, mas nos moldes da vontade de Deus, compreendendo a essência dos mandamentos e vivendo uma vida plena na Presença do Altíssimo.
No texto que lemos Jesus ataca um ponto crucial que afetava a vida dos líderes religiosos daquela época, que é a hipocrisia. Jesus usou mais de uma vez a palavra “hipócritas”, referindo-se a tais pessoas. Essa palavra, na língua grega, indicava um ator que utilizava máscaras para representar personagens. Jesus estava dizendo, então, que aqueles homens apenas representavam o papel de religiosos piedosos, mas na verdade adoravam a si mesmos, eram egocêntricos e não almejavam glorificar a Deus com seus atos.
Embora os acontecimentos dessa passagem tenham se dado muitos séculos atrás, é fato que tudo o que Jesus apontou como conduta hipócrita continua ocorrendo nos dias atuais e com muita intensidade, atingindo não apenas líderes religiosos, mas diversas pessoas que afirmam serem seguidoras de Cristo.
Jesus procura ensinar como deve ser a conduta de um cristão autêntico, que vive em integridade, ou seja, que tem seu interior correspondendo ao exterior, aproximando-se mais do caráter de Cristo.
Vamos destacar alguns ensinamentos que Jesus ministrou nessa passagem, para que sejamos cristãos autênticos.

          1)      Não seja um crente exibicionista
Jesus falou de atitudes tomadas por pessoas com a finalidade de se exibirem, para serem vistas por outras pessoas. No versículo 1 Ele diz que os hipócritas exercem sua justiça “com o fim de serem vistos por eles”. O versículo 2 traz a expressão “para serem glorificados pelos homens”. Já o versículo 5 trata daqueles que fazem orações “para serem vistos dos homens”, enquanto o versículo 16 apresenta os que jejuam “com o fim de parecer aos homens que jejuam”. Enfim, tudo o que se faz tem como motivação aparecer para as pessoas, ser enaltecido, elogiado, praticamente adorado.
O Mestre Jesus condena esses comportamentos, porque as motivações são erradas, já que quem age assim quer glória para si e não para Deus.
Nos tempos antigos as pessoas se exibiam nas praças, nas sinagogas, ruas, mas hoje, com a modernidade, além dos templos e lugares externos, há novas maneiras de se mostrar, pois podemos usar a internet e as diversas redes sociais, como Facebook, Whatsapp, Instagram, etc., e isso tem sido feito de forma bem corriqueira por cristãos.
Hoje o exibicionismo virou uma febre, uma doença, e há pessoas que se expõe continuamente nas redes sociais. A intimidade é deixada de lado pela vontade de mostrar às pessoas o que estamos fazendo, o que compramos, os lugares que visitamos, as viagens realizadas, inclusive seu roteiro, etc.
Essa exposição traz perigos a nós e nossos familiares, pois podemos ser vítimas de pessoas mal intencionadas que conseguem informações valiosas nas redes sociais. Porém, da mesma forma que nossa vida pessoal deve ser preservada, não nos submetendo a tanta exposição, também nossa vida espiritual deve receber especial atenção de nossa parte para que não caiamos na tentação do exibicionismo.
Em Provérbios 10.19 aprendemos que “no muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente”. Podemos dizer, com base nessa orientação bíblica, que não é prudente se expor demais, como tem ocorrido atualmente.
Assim, quando exercitamos nossa fé por meio de ajuda a pessoas, oração, jejum ou qualquer outra forma, isso não deve ser exposto com a finalidade de que as pessoas vejam o que estamos fazendo, pois isso é exibicionismo, é hipocrisia.
Não devemos querer que todos saibam o que fazemos, para que nos considerem verdadeiros cristãos. Não devemos usar redes sociais para mostrar como somos bons cristãos. Cabe a nós vivermos com autenticidade a nossa fé, sem pensar em promoção pessoal.
Não é raro ver pessoas postando no Facebook suas orações pessoais, expondo alguma situação que estão vivendo e pedindo a Deus uma providência. Todavia, Jesus disse que nossa conversa com o Pai deve ser reservada, apenas com Ele. Ninguém precisa saber o que estamos conversando com nosso Deus. Isso é diferente de pedir aos irmãos que orem por uma necessidade especial. Nossas orações são um diálogo nosso com o Pai Celeste, e interessam apenas a nós e a Deus, e a ninguém mais. O próprio Jesus se retirava para lugares onde pudesse ficar a sós com o Pai, e assim orava.
Cumpre-nos imitar o Mestre, que nunca quis atrair atenções sobre si, pelo contrário, muitas vezes até pedia que as pessoas por Ele beneficiadas não comentassem sobre as bênçãos que haviam recebido. Então, sejamos como Jesus.

           2)      Não queira uma glória que não é sua
Em seu ensino, Jesus mostra que os crentes exibicionistas não almejam outra coisa, senão sua própria glória.
Os que exercem sua justiça perante os homens querem ser declarados justos por esses mesmos homens;os que dão esmolas e ajudam necessitados querem ser aplaudidos pelas pessoas; os que oram para todos verem almejam ser reputados por pessoas como crentes piedosos e de oração; os que jejuam querem ser vistos como religiosos que sofrem por sua fé.
O problema é que o cristão não vive para si, e sim para Deus, e por meio de seu viver Deus é que deve ser glorificado, ou seja, é o Senhor que deve receber as honras, e não o servo.
Observemos o que escreveu Paulo:
“Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Romanos 14.7-8)
Deus não aceita esse tipo de atitude dos seus servos – querer glória para si mesmos -, pois Ele não divide a sua glória com ninguém, conforme lemos em Isaias 42.8:
“Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura.”
Jesus disse que essas pessoas já receberam a sua recompensa, que é a glorificação apenas diante dos homens. Essa, e apenas essa, será a sua recompensa.
Jamais deve tomar nosso coração a vontade de recebermos uma glória que não é nossa, mas de Deus, pois estamos agindo como ladrões, pretendendo nos apropriar do que não nos pertence.
Na passagem que lemos, encontramos a “Oração do Pai Nosso”. E não é por acaso que essa oração está exatamente nesse lugar no Evangelho escrito por Mateus. Com a oração do Pai Nosso, Jesus ensina a reconhecer que Deus é Santo; que a Sua vontade deve ser prioridade em nossa vida; que dependemos dEle para termos nosso sustento; que Deus é misericordioso e requer que sejamos misericordiosos, perdoando a quem nos ofende; que Deus tem o poder de nos livrar das tentações e das ações do maligno; e que o reino, o poder e a glória pertencem a Ele por toda a eternidade.
Em outras palavras, a Oração do Pai Nosso nos ensina a dar a Deus a glória que Lhe é devida, colocando-nos em posição de servos humildes e dependentes da Graça Eterna.

           3)      Confie na Providência do Pai
No versículo 1, Jesus diz que aquele que obtém glória diante dos homens não receberá galardão de Deus. No versículo 4, o Mestre ensina que ao fazer caridade em secreto, receberemos de Deus a recompensa. Da mesma forma é dito nos versículos 6 e 18. Jesus é enfático ao dizer que o Pai, que vê em secreto, recompensará.
O cristão que conduz sua vida de maneira a glorificar a Deus, demonstrando no viver diário o testemunho da fé em Cristo, mas sem exibicionismo, jamais buscando exaltação pessoal, pode esperar confiantemente em Deus, pois suas obras estão sendo vistas pelo Pai, que concederá, no momento que julgar apropriado, a justa recompensa.
Deus sabe o que precisamos, sabe o que sofremos, sabe de nossa fidelidade.
Ele conhece nosso íntimo, vê em secreto, ou seja, enxerga o que está oculto em nosso coração, em nossa mente, e assim sabe quais são as nossas motivações e também nossas dificuldades e nossos anseios.
As recompensas que Deus pode dar superam infinitamente as recompensas que podemos receber dos homens. Deus faz o que nenhum ser humano pode fazer por nós.
Entretanto, Ele requer de nós humildade e fidelidade. Humildade para reconhecer que somente a Deus é devida a glória, e fidelidade para vivermos uma vida que glorifique a Deus.
Deus responde à oração, aceita a oferta, abençoa o caridoso, faz justiça ao justo.

CONCLUSÃO
Jesus quer que vivamos com sabedoria, como cidadãos do Reino que assimilaram seus ensinos e os colocam em prática no dia a dia.
Jesus quer servos comprometidos com o Reino, que realmente dediquem suas vidas ao Senhor, e não estejam interessados em glória para si mesmos, mas para Deus.

“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 4.11)

“Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” (Gl 2.20)

Que Deus nos leve a sermos crentes humildes e fiéis, e não meros exibicionistas da fé.

José Vicente
15.01.2017

sábado, 25 de fevereiro de 2017

CARACTERÍSTICAS DA VERDADEIRA FÉ




Texto base: Mateus 12.38-42

A passagem lida nos mostra Jesus sendo inquirido mais uma vez pelos fariseus e escribas, homens especialistas na Lei de Deus, considerados líderes religiosos do povo judeu.
O contexto nos mostra que Jesus vinha sendo criticado por esses homens, visto que permitiu que Seus discípulos colhessem espigas para comer em dia de sábado (vv. 1-8), efetuou a cura de um homem no sábado (vv. 9-14), e realizou a libertação de cura de um homem mudo, cego e endemoninhado (vv. 22-32). Em cada ocasião, foram confrontados por Jesus com o ensino do verdadeiro sentido da Lei da Deus, além de terem sido alertados para o fato de que a blasfêmia contra o Espírito Santo é imperdoável.
Jesus também ensinou que o verdadeiro servo de Deus é uma árvore boa, que produz bons frutos, visto que Seu coração está cheio do maior tesouro que existe, que é o próprio Deus, enquanto pessoas más só conseguem produzir maus frutos, pois seu coração está cheio de maldade e coisas do mundo.
Insatisfeitos por não terem ainda conseguido enredar Jesus com suas artimanhas, esses líderes religiosos agora fazem uma nova investida, em resposta às duras palavras ditas pelo Senhor, e lhe pedem um sinal, algo que demonstre que Ele é quem diz ser.
A resposta dada por Jesus, mais uma vez com inigualável sabedoria, vem mostrar algumas características da verdadeira fé, deixando evidente que religiosidade e fé não são coisas sinônimas, e o que Deus requer de nós é exatamente a fé, e não a religiosidade.


Vamos analisar algumas lições que podemos extrair do texto bíblico.

                              I.            A verdadeira fé não exige sinais
No versículo 38 os escribas e fariseus, não tendo gostado da forma como Jesus se referiu a eles anteriormente, já que tudo levava a concluir que eles eram as árvores más a que Jesus aludiu, contra-atacam com a seguinte exigência: “Mestre, queremos ver de tua parte algum sinal”.
É interessante notar que até então Jesus já havia feito inúmeros sinais, todavia os líderes religiosos não estavam satisfeitos. Na verdade, a cada sinal feito por Jesus eles lançavam uma crítica, pois sua falta de fé era tão grande que eles não conseguiam enxergar o poder de Deus em ação, apenas viam a sua posição de autoridade religiosa ser ameaçada por um novo Mestre que conseguia cativar as multidões e representava um risco ao poder que eles exerciam sobre o povo.
Então, do alto de sua incredulidade, eles exigiam de Jesus um sinal, como se fosse uma condição para que cressem nEle e em Sua pregação. Isso se repetiu em Mateus 16.1, mostrando que, na verdade, o problema deles era a ausência de verdadeira fé. Eles não criam em Jesus como o Filho de Deus. Por mais que Jesus pregasse e fizesse sinais, eles continuavam não crendo, pois seus corações eram endurecidos e estavam cheios das coisas deste mundo.
Jesus responde comparando aquela geração ao povo da cidade de Nínive, que, conforme está escrito no livro de Jonas, ao ouvir a pregação do profeta, que inclusive foi feita a contragosto e de má-vontade, chegou ao arrependimento e escapou da destruição, sem que tivesse sido necessário qualquer sinal sobrenatural.
O Mestre ainda menciona a Rainha de Sabá, que viajou de muito longe para conhecer o rei Salomão e sua tão falada sabedoria, deparando-se com um homem realmente sábio e, por meio dele, veio a conhecer o Deus de Israel. Também essa rainha não precisou ver coisas sobrenaturais, bastando ouvir de Salomão o que ele dizia para concluir que era um homem sábio e escolhido por Deus para governar Israel.
Os ninivitas e a Rainha de Sabá não precisaram de sinais miraculosos, todavia, aqueles homens, estando diante de quem era maior do que Jonas e Salomão, não conseguiam crer mesmo diante da pregação e dos sinais realizados, e continuavam exigindo sinais como condição para crer.
Quando eles chamam Jesus de Mestre não é porque realmente O considerem um mestre, mas era mera dissimulação, porque, como Jesus já havia dito, eram homens que viviam representando o papel de religiosos piedosos, todavia eram incrédulos.
Assim, Jesus ensina que a verdadeira fé não exige sinais, e se houver tal exigência, então se estará diante de incredulidade disfarçada de fé pragmática.
Atitudes como a dos fariseus e escribas não são coisas do passado, pelo contrário, são muito atuais e se fazem presentes dentro de muitas igrejas. Não apenas líderes religiosos, mas diversas pessoas que afirmam serem discípulas de Cristo, continuamente querem ver sinais para que sua pretensa fé possa ser alimentada.
Assim, a ocorrência de sinais miraculosos passa a ser o centro de muitas pregações e de muitos cultos, e para alimentar a sede do povo muitos líderes chegam ao ponto de simular tais sinais, de forma a cativar um número cada vez maior de incautos, que são atraídos apenas por shows de milagres.
A fé alicerçada em sinais não se firma, pois é necessário ser alimentada continuamente com milagres cada vez maiores. E quando nada acontece, simplesmente as pessoas desistem e acham que foi tudo perda de tempo ou que a espiritualidade da Igreja em que congregam é fraca e, então, vão em busca de outra comunidade onde possam encontram sinais que as façam “crer que Deus está ali”.
Geralmente são pessoas que pulam de igreja em igreja, e vivem uma vida de aparências, à semelhança dos escribas e fariseus. Pensam ser muito espirituais, conhecedoras das profundidades das Escrituras, aptas a ensinar e julgar o próximo, mas estão sempre exigindo sinais de Jesus, mesmo que sejam “produzidos por homens”.
Ora, como Paulo escreveu, após ter aprendido corretamente os ensinamentos de Cristo:
“Visto que andamos por fé e não pelo que vemos.” (2Cor 5.7)
Quem exige sinais está impondo condições para crer, mas quando se trata de Jesus, não há espaço para tal atitude, pois isso não é fé verdadeira. Essa “fé” baseada apenas em sinais é passageira, não resiste ao tempo e às provações, logo esmorece, porque não é autêntica.
A postura dos escribas e fariseus era influenciada pelo diabo, pois ele é quem gosta de alimentar a incredulidade e lançar desafios disfarçados de provas de fé. Foi o diabo que, quando Jesus estava jejuando no deserto, apareceu e tentou convencer o Mestre a provar que era o Filho de Deus transformando pedras em pães e se jogando do pináculo do templo, mas Jesus não caiu em sua armadilha, assim como não se deixou enredar pelas artimanhas dos líderes religiosos.
Que nossa fé seja autêntica e firmada na Palavra de Deus e no testemunho do Espírito Santo ao nosso coração, jamais necessitando de sinais para se manter, mas crescendo cada vez mais inabalável por ser verdadeira.

                             II.            A verdadeira fé vê os sinais
Enquanto a verdadeira fé não exige sinais, podemos constatar também que, quem a possui, vê os sinais de Jesus e glorifica a Deus.
Como destacamos, Jesus vinha realizando milagres, curas e prodígios que nunca antes haviam sido vistos. Ele fez cegos enxergarem, coxos andarem, mudos falarem, expulsou demônios com uma ordem, além de pregar com autoridade o Reino de Deus. Curiosamente eram justamente os líderes religiosos, aqueles que se julgavam mais santos, que não conseguiam ver nesses sinais o agir de Deus, antes, encaravam-nos com indiferença, concentrando-se em formas de derrubar Jesus.
Outras pessoas, porém, que se aproximavam de Jesus com fé, viam os sinais acontecerem em suas vidas. Eram pessoas que vinham clamar por socorro, e não exigiam nenhum sinal, apenas imploravam por misericórdia e eram atendidas pelo Mestre.
No capítulo 8, por exemplo, um leproso se aproxima de Jesus e não pede sinal algum, pelo contrário, ele manifesta sua fé dizendo: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me” (Mt. 8.2). E em resposta a sua fé Jesus o torna limpo, totalmente curado da enfermidade que o afligia e que impunha sua exclusão social.
Ainda no capítulo 8, vemos um centurião – que nem mesmo era judeu -, clamar a Jesus pela cura de um criado enfermo. O centurião não exigiu um sinal para crer que Jesus tinha poder, ele apenas creu e foi até Jesus como o único que poderia fazer algo pelo doente. Esse homem levou Jesus a dizer: “Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta” (Mt. 8.10), e o servo do centurião foi curado por uma simples ordem de Jesus à distância.
Os Evangelhos estão repletos de histórias de pessoas que creram em Jesus sem exigir sinais, apenas porque tinham no coração a convicção de que Ele era quem realmente dizia ser, o Filho de Deus, e com isto sua fé foi recompensada, pois viram o poder sobrenatural de Deus em ação em suas vidas.
A fé verdadeira nos leva a ver os sinais que continuamente são feitos por nosso Senhor e que passam despercebidos aos olhos dos incrédulos. Quem tem fé verdadeira, alicerçada na Palavra que foi pregada e na ação do Espírito Santo, enxerga milagres de Deus em todas as coisas, e sabe glorificar a Deus.
Recentemente encontrei um rapaz que fora meu cliente. Anos atrás ele vivia embriagado, fumava desesperadamente. Um dia lhe entreguei uma matéria em que Rodolfo Abrantes, ex-integrante do grupo Raimundos, falava sobre sua conversão e a transformação ocorrida em sua vida. Não sei se ele leu a matéria, mas isso não importa. O tempo passou e no ano passado esse rapaz estava com um problema de coluna e teria que ser submetido a uma cirurgia, visto que tinha dores muito fortes e seus movimentos estavam ficando comprometidos. Agora, ao reencontrá-lo, perguntei se havia feito a cirurgia, e sua resposta foi maravilhosa. Ele disse que não fez o procedimento cirúrgico, pois Jesus o curou, além de tê-lo livrado do vício das bebidas e cigarro. E realmente ele caminhava muito bem, não aparentava ter mais nenhum problema na coluna. Mais de uma vez ele glorificou a Jesus pela cura e pela libertação. Eis aí Jesus fazendo sinais que são vistos pelos que creem sem exigências.
Sim, quando nossa fé é verdadeira, nada exigimos de Jesus, apenas lhe suplicamos em oração e somos respondidos conforme Sua vontade. O Mestre não deixa sem resposta aquele que nEle crê. Os crentes não vivem abandonados, esperando por algo vago e incerto. A fé é o elemento que nos conecta com Deus de maneira a ouvirmos Sua voz e vermos Sua ação em nosso favor e dos que nos cercam.
Nossa realidade precisa ser esta. Nossa espiritualidade não deve ser baseada em aparências, mas em uma fé que existe e permanece mesmo que não ocorram sinais e prodígios, porque quem crê vê sinais de Deus até mesmo quando nada visível acontece.
Nossas igrejas precisam estar cheias de pessoas com fé verdadeira, que nunca exigem nada de Jesus, que não vivem em busca de sinais, que não dependem de milagres, de acontecimentos sobrenaturais para manter acessa a chama da fé, mas que, pelo contrário, veem o sobrenatural ocorrer justamente porque creem em Jesus.
Os ninivitas não eram povo de Deus, mas creram na pregação de Jonas e viram o poder de Deus, pois foram poupados da destruição naquele momento.
A fé autêntica não depende de sinais ou de emoções, quem a tem se contenta em saber que Deus tem tudo em Suas mãos e sempre faz o melhor, independentemente das circunstâncias da vida.

                             III.            A verdadeira fé livra da condenação
Jesus disse que os ninivitas e a Rainha de Sabá, no dia do Juízo, se levantarão para condenar aquela geração incrédula. Note-se que Jesus colocou gentios em posição de testemunhas de condenação contra judeus, e isso era algo inconcebível para eles, visto que eram o povo eleito por Deus e se consideravam intocáveis.
Jesus mostra que a incredulidade resulta em condenação, o que está em concordância com o restante das Escrituras, que evidenciam que a fé em Cristo é a nossa resposta à Graça de Deus que nos salva.
O Mestre afirma que o único sinal que seria dado seria o de Jonas, fazendo uma referência à sua morte, sepultamento e ressurreição.
A verdadeira fé livra da condenação, porque mesmo sem termos presenciado os fatos, cremos que Jesus morreu, foi sepultado e ressuscitou para selar nossa redenção e nossa justificação. Cremos que aquele sinal de Jonas ao qual Jesus fez alusão se cumpriu, e o Mestre está glorificado com o Pai, de onde voltará para julgar vivos e mortos.
A verdadeira fé livra da condenação porque nos leva a nos achegarmos a Jesus por quem Ele é, o Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador, com atitude de humildade, reconhecendo quem nós somos e que carecemos da misericórdia do Altíssimo.
A verdadeira fé não nos leva à presença de Jesus com arrogância e sentimentos de autojustificação, exigindo algo em troca ou alguma prova de que Jesus tem poder ou de que Ele é quem afirma ser. Pelo contrário, vamos a Ele sabedores de que estamos diante do Rei dos reis, e que o único Caminho para a vida eterna é Ele.
A verdadeira fé produz frutos que a evidenciam, demonstrando que a seiva da vida, que é o Espírito Santo, flui em nós e nos transforma em árvores frutíferas para Deus.
A verdadeira fé nos firma na esperança que há em Cristo como Aquele que deu Sua vida para nos resgatar, purificou-nos de nossos pecados e nos conduz à Vida Eterna.
Ao contrário dos escribas e fariseus, que se sentiam ameaçados por Jesus, o crente verdadeiro sente-se atraído pelo Mestre, que é a sua salvação, sua Rocha de refúgio.
O próprio Jesus afirma que não há condenação para os que nEle creem:
“Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (João 3.18)
É pela fé em Jesus que somos livres da condenação, porque nossa fé é a resposta ao Seu chamado de amor, e não decorre de nenhuma barganha, mas puramente da Graça de Deus.

CONCLUSÃO
Os homens que confrontavam Jesus não eram gentios, pelo contrário, eram líderes do povo de Deus, judeus religiosos que conheciam as Escrituras. Da mesma forma, no meio do povo cristão também vamos encontrar pessoas como eles, que têm sua fé dependente de sinais, de acontecimentos sobrenaturais, e que precisam disso para prosseguir da mesma forma que um dependente químico precisa de drogas.
A advertência que Jesus fez àqueles homens, e que se aplica à Igreja de hoje, é no sentido de que somente a fé verdadeira é aceita por Deus, não bastando mera religiosidade muito menos a atuação dos crentes como atores.
Temos que crer em Jesus por quem Ele é, e não pelo que Ele pode fazer por nós.
Que o Espírito Santo produza em nós uma fé verdadeira, inabalável, que não dependa de circunstâncias externas, mas seja firmada na Palavra de Deus que nos foi e continua sendo pregada, levando-nos a uma transformação constante em nossa mente e espiritualidade.
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, 18 todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação.” (Habacuque 3.17-18)

José Vicente
29.01.2017


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

FRUTIFICANDO PARA A GLÓRIA DE DEUS



MATEUS 12.33-37

Os cristãos têm um desafio bastante grande neste mundo, que é o de serem testemunhas de Jesus Cristo. Para isso, necessitam abandonar conceitos que o mundo ensina, para poderem viver conforme os ensinamentos do Mestre. Não é possível dizer que somos discípulos de Jesus se não assimilamos e vivemos o que Ele ensinou e continua ensinando.
O problema é que, infelizmente, vemos um mundo onde a ausência de Deus nos corações parece aumentar significativamente, pois a maldade cresce, a falta de amor ao próximo é algo comum, a desonestidade se torna uma forma “natural” de crescer materialmente, a falta de respeito para com as pessoas atinge níveis alarmantes, o desprezo do ser humano pelo próprio ser humano toma proporções gigantescas e nesse panorama os cristãos deveriam ser notados justamente por terem uma postura radicalmente contrária aos valores deste mundo caído.
Os noticiários, porém, nos dão conta de que pessoas identificadas como cristãs estão envolvidas em escândalos sexuais, financeiros, corrupção, jogos de poder, e a mídia faz questão destacar a religião dos envolvidos, afirmando serem líderes evangélicos, o que vem se caracterizar como uma vergonha ao Evangelho de Cristo.
Mas longo dos holofotes, os cristãos comuns, que não estão em posições que envolvam publicidade como os políticos, também agem de forma a se tornarem motivo de ataques à Igreja de Cristo, porque se denominam cristãos evangélicos, frequentam igrejas, dão seus dízimos, exercem funções nas igrejas, mas no dia a dia agem como incrédulos, às vezes pior do que ateus, dando um testemunho negativo da fé evangélica.
Na passagem lida, Jesus ministra uma série de ensinamentos sobre o modo de vida do cidadão do Reino. Esses ensinamentos contrariavam o modo de vida dos líderes religiosos da época. Havia muita ênfase na religiosidade baseada em aspectos exteriores, porém Jesus ensinou que religiosidade não é a marca dos filhos de Deus, mas sim um caráter transformado.
Trata-se de ensinamentos que não se aplicavam apenas aos homens daquele tempo, mas, pelo contrário, cabem perfeitamente nos dias atuais, a todos os cristãos, assim consideradas as pessoas que afirmam crer em Jesus como seu Senhor e Salvador e frequentam uma igreja evangélica.
Aliás, nos dias atuais, onde a Igreja parece não fazer mais tanta diferença neste mundo, esse ensinamento de Jesus toma contornos de maior gravidade e necessidade, pois a Igreja precisa despertar, visto que se aproxima o tempo em que Jesus voltará para buscar todos aqueles que Lhe pertencem.

           1)      Somos identificados pelos nossos frutos
Naqueles dias havia muita religiosidade por parte dos líderes judeus. Eles ensinavam ao povo de maneira incorreta, pois tentavam levar as pessoas a terem o seu tipo de procedimento. Eles se preocupavam com aparências, com o exterior, com a observância de regras puramente, mas sua vida não era um culto verdadeiro a Deus, antes, cultuavam a si mesmos.
Esses homens ensinavam a Lei de Deus apenas como um conjunto de regras a serem seguidas, iam às sinagogas para ensinar às pessoas e adorar a Deus, mas seu culto era vazio, pois não havia temor ao Senhor, eles não atentavam para o fundamento dos mandamentos de Deus.
Essa falsa espiritualidade é claramente observada na forma como esses líderes reagiam diante da pregação e dos sinais de Jesus.
Nos versículos 1 a 5 os fariseus criticaram os discípulos de Jesus por terem colhido espigas para saciar sua fome em um sábado. Para eles, a observância da letra da Lei era mais importante do que prover o sustento ao ser humano. A Lei era mais importante do que a vida.
Nos versículos 6 a 11 fica mais evidente a falsa espiritualidade desses homens, pois eles estavam na sinagoga, onde Jesus ministrava ensinamentos, e era sábado. Jesus curou um homem que tinha a mão atrofiada, e ensinou que o objetivo de Deus ao estabelecer o sábado não era atribuir um fardo aos humanos, e que a base da Lei era o amor, portanto, uma verdadeira espiritualidade envolvia não apenas o cumprimento da letra da Lei, mas da sua essência. Aqueles líderes achavam que Deus se importava mais com a Lei do que com o ser humano.
Após essa cura, os fariseus e os escribas planejavam matar Jesus. Ora, isso se deu logo após terem prestado culto a Deus na sinagoga, deixando claro que a religiosidade demonstrada durante o culto era superficial, não havia adoração verdadeira a Deus, tratava-se de algo apenas ritualístico e que não produzia efeitos naquelas pessoas, pois era de se esperar que após o culto estivessem com seus corações pacificados, mas não foi isso que demonstraram.
Nos versículos 22-32, após Jesus ter curado um homem que era surdo,mudo e possuído de demônio, esses líderes religiosos acusavam Jesus de fazer tais sinais pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios, cometendo uma blasfêmia contra o Espírito Santo.
Os mesmos lábios que louvavam a Deus na sinagoga, nas orações e nos ensinamentos das Escrituras, estavam cometendo o pecado da blasfêmia, acusando o Filho de Deus de agir movido pelo poder de Satanás, e não pelo poder de Deus.
Os frutos produzidos por esses líderes religiosos denunciavam sua hipocrisia e evidenciavam que eles não haviam compreendido a Palavra de Deus, ela não fazia morada em seu coração.
Em diversas outras passagens, Jesus destacou que aqueles homens eram fingidos, que sua vida não correspondia ao que eles ensinavam, que eles buscavam glória própria, queriam ser beneficiados e para isso passavam ao povo uma imagem falsa, tentavam levar as pessoas a acreditarem que eles eram homens piedosos, tementes a Deus, perfeitos em seus caminhos e no cumprimento dos mandamentos de Deus, quando na verdade não passavam de falsos mestres e falsos profetas.
Jesus disse que eles eram como sepulcros caiados, bonitos por fora e cheios de podridão por dentro. Enfim, Jesus desmascarou esses líderes, denunciando os frutos maus que eles produziam.
Em contrapartida, Jesus ensinou quais deveriam ser os frutos da vida de quem tinha a verdadeira intenção de servir a Deus, de quem era cidadão do Reino. Ele ministrou curas e libertação, demonstrando que deve haver cuidado para com as pessoas necessitadas; ensinou as virtudes que estão ligadas às bem-aventuranças; falou sobre a necessidade de termos como prioridade a busca de uma espiritualidade verdadeira, não trocando as coisas eternas por coisas passageiras; Ele falou sobre a prática do perdão, do amor, da generosidade; sobre a necessidade de sermos humildes, de nos analisarmos a nós mesmos e mantermos nossa visão clara para enxergarmos nossos erros e podermos auxiliar nossos irmãos em suas fraquezas.
Jesus deixou claro que o que demonstra se uma pessoa ama a Deus e O serve são os frutos vistos no seu dia a dia. Aparências podem enganar aqueles que olham de maneira superficial, mas os cristãos são chamados a não levar uma vida de aparências, antes, devem evidenciar no seu proceder uma espiritualidade verdadeira, pautada nos valores do Reino.
Deus nunca se agradou do culto de aparência. Em Isaias 1.11-20 podemos ver Deus exortando o Seu povo neste sentido, porque as pessoas Lhe prestavam culto, ofereciam holocaustos, entoavam louvores, observavam as festas previstas na Lei, mas tudo isso era superficial, limitava-se aos momentos de culto e era feito de forma mecânica, por mero ritualismo, sem que houvesse derramamento da alma perante o SENHOR, enquanto no dia a dia agiam como se não conhecessem a Deus e aos Seus mandamentos.
Hoje, a exemplo do que ocorria nos dias de Jesus, continuam a existir pessoas que se intitulam cristãs, que levam uma vida de religiosidade, mas não produzem frutos compatíveis com a fé evangélica, pelo contrário, sua vida não glorifica a Deus porque seus atos depõem contra o Evangelho.
Assim como os escribas e fariseus, logo após prestarem culto a Deus, já pensavam em matar Jesus, muitos cristãos nem bem saem de Igreja e já começam a fazer coisas totalmente contrárias à fé que professam.
Durante o culto louvam a Deus de uma forma que aparenta profunda espiritualidade, até mesmo choram, transmitem às pessoas à sua volta uma impressão de que estão em perfeita comunhão com o Pai, oram com fervor, abraçam os irmãos, gritam “glória a Deus”, enfim, agem como se fossem crentes exemplares, superespirituais.
No seu dia a dia, porém, procedem como se não conhecessem a Palavra de Deus, como se apenas aos domingos tivessem que ser espirituais, e no restante da semana pudessem ser carnais.
Trata-se de uma espiritualidade vazia, falsa, que se traduz em um autoengano, pois o cristão que assim age pensa que está agradando a Deus, mas na verdade está muito longe de fazer a vontade do Pai, está caminhando na direção oposta.
Há lideres cristãos que passam ao povo uma imagem de supersantos, de pessoas que possuem um relacionamento especial com Deus, e com isto conseguem atrair multidões, porém seus frutos não são coerentes com a Palavra de Deus, pois buscam a gloria própria, aproveitam-se da ingenuidade e boa-fé dos crentes para obterem vantagens pessoais, são como aqueles homens que Jesus criticou durante Seu ministério.
Os maus frutos produzidos pelas árvores ruins são maledicência, divisões, inveja, legalismo, moralismo, arrogância, egoísmo, avareza, desonestidade, mentira, deturpação da verdade, oposição ao ensino da Palavra de Deus em sua forma autêntica, insubmissão, desobediência, intolerância, discriminação e muitos outros.
Já os bons frutos se revelam na vida de amor, solidariedade, humildade, perdão, generosidade, misericórdia, e outras virtudes provenientes de nossa relação com Deus.
Como tem sido nossa vida? Temos produzidos frutos bons, coerentes com os ensinos de Jesus, ou nos assemelhamos aos líderes religiosos dos tempos de Jesus, que louvavam a Deus com seus lábios, mas seus corações estavam voltados às coisas deste mundo? Que tipo de árvore somos nós?


           2)      Nossos frutos são conforme o tesouro que guardamos em nosso coração
A forma como conduzimos nossa vida é a expressão do nosso caráter, reflete o que está em nosso interior. Jesus disse que a árvore boa produz bons frutos, e a ruim, maus frutos. Lembro que no sítio onde meu sogro trabalha há muitas árvores frutíferas, mas há algumas que nunca dão bons frutos. Há mangueiras de vários tipos, e em duas delas os frutos sempre são ruins, embora exteriormente seja bonitos e vistosos. Nem convém perder tempo procurando frutos nessas árvores, porque somente colhemos decepção.
Jesus complementou dizendo que o homem bom tira coisas boas do bom tesouro de seu coração, mas o homem mau, cujo coração é mau, só produz frutos coerentes com o que está em seu coração.
A palavra tesouro é empregada porque se trata daquilo que recebe valor da pessoa que o cultiva, é guardado como algo valioso, muitas vezes escondido de outras pessoas.
Jesus revela que falamos e agimos conforme aquilo que enche nosso coração, conforme o que temos de mais abundante em nosso interior, nossa riqueza, o que entesouramos e guardamos para que os outros não vejam.
Em outra passagem (Marcos 7.21-23), Jesus diz que os diversos males produzidos pelo ser humano têm origem naquilo que está em seu coração:

“Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.21-23)

Um homicida pode parecer uma boa pessoa, até que aquilo que está em seu coração vem à tona e ele revela sua verdadeira identidade. Um invejoso pode aparentar ser alguém confiável, porém em dado momento o tesouro de seu coração se tornará conhecido, pois suas ações serão compatíveis com o que guarda em seu interior, e não com suas belas palavras.
Por esta razão, ainda que tentemos aparentar ser bons, religiosos, podemos passar essa imagem por algum tempo, mas logo nossas obras vão denunciar quem realmente nós somos. Nossa verdadeira imagem é a que corresponde ao que está em nosso interior, e é impossível fingir o tempo todo, nos enganar o tempo todo.
Assim, uma pessoa cujo coração é egoísta não tem como demonstrar solidariedade para com seu próximo. Uma pessoa cujo coração está nas coisas materiais não terá desprendimento, e ofertar generosamente para a Obra de Deus ou para amenizar o sofrimento alheio será algo fora de cogitação.
Os líderes religiosos daquele tempo faziam o possível para se mostrarem bons, piedosos, sábios, todavia a sua intenção não valia nada, porque a sua essência era bem diferente daquilo que pretendiam aparentar. Eles talvez até acreditassem no que diziam, mas isso não os favorecia em nada, porque uma pessoa pode estar sinceramente enganada, e com isto jamais conseguirá agradar a Deus.
Nossa conduta diária vai demonstrar o que está em nosso coração. Nossos frutos corresponderão ao tesouro que guardamos dentro de nós.  E por mais que tentemos disfarçar e enganar as pessoas, é certo que de Deus não podemos esconder nada, pois Ele conhece o mais profundo de nosso ser, conforme o Eterno nos diz por meio do profeta Jeremias:
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações.” (Jeremias 17.9-10)
Assim, ainda que nós mesmos tenhamos dificuldades em sondar nossos corações e admitir o que há de mal em nosso interior, devemos saber que Deus sabe exatamente o que pensamos e qual é o tesouro que guardamos no coração. Ele sabe retribuir a cada um conforme suas obras, e de Deus nada conseguimos esconder.
Os fariseus e demais líderes religiosos daquela época conseguiam enganar as pessoas, mas Jesus conhecia seus corações, sabia de suas intenções, e não podia ser ludibriado pela encenação que eles faziam.
Temos que lembrar que nossos corações estão expostos diante de Deus. E nossos frutos demonstram quem nós realmente somos. Caso estejamos nos enganando, é hora de darmos um basta nisso e reconhecermos que precisamos de uma transformação verdadeira e profunda, para que o tesouro guardado em nosso coração não seja um conjunto de valores deste mundo, que ensina o que desagrada a Deus, mas seja o amor de Deus.
Sim, o maior tesouro que devemos guardar em nosso coração é o Eterno Deus.


           3)      Precisamos de um coração transformado para produzir bons frutos
A Palavra de Deus declara que o coração do homem é enganoso e perverso (Jeremias 17.9), portanto, inclinado ao mal.
Paulo, apóstolo de Cristo, fez a seguinte afirmação:
“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.” (Romanos 7:18-19)
O mesmo Paulo, invocando passagem do Antigo Testamento, ainda disse que “não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus.” (Romanos 3:10-11)
Vemos, portanto, que não há ser humano cujo coração seja originalmente bom.
Como, então, podemos ter uma vida conforme Jesus ensinou, produzindo bons frutos? Se o coração humano é inclinado ao que não agrada a Deus, de que forma poderemos fazer algo que seja bom o bastante para que Deus seja glorificado por nossas vidas?
Diante dessa realidade, podemos pensar: é possível que uma árvore ruim, que produz frutos conforme a sua natureza, se transforme em árvore boa e produza bons frutos?
A resposta é afirmativa. Sim, isso é possível. Aliás, não apenas é possível, como aconteceu conosco. Todo ser humano, antes de ser alcançado pela Graça salvadora de Deus, é escravo de sua natureza caída e, por mais que tenha em si alguma bondade, jamais será suficiente para produzir frutos que agradem a Deus, pois estes são contaminados pelo pecado.
Assim, para que possamos produzir bons frutos é necessário que sejamos transformados. Não se trata de uma transformação exterior, em nossa aparência, mas profunda, em nosso coração.
Essa transformação se dá pelo novo nascimento, produzido pelo Espírito Santo de Deus, crucificando nossa velha natureza e nos transformando em novas criaturas, lavadas pelo Sangue do Cordeiro Eterno, Jesus Cristo.
A partir do novo nascimento, somos habilitados a sermos árvores boas, porque a seiva que nos alimenta é o Espírito Santo. Jesus disse: “mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna” (João 4.14). E “quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva” (João 7.38).
Essa fonte de água a jorrar para a vida eterna, e esse rio de água viva que fluirá de nosso interior, é o Espírito Santo nos enchendo com Sua presença e transformando nosso ser, a fim de que sejamos habilitados para toda boa obra em Cristo Jesus.
Com nossa própria força e baseando-nos em nosso entendimento não temos como produzir bons frutos aos olhos de Deus, pois Jesus disse: “sem mim nada podeis fazer” (João 15.5). Nós precisamos de Jesus Cristo para sermos boas árvores, caso contrário, continuaremos produzindo frutos maus. Precisamos ser arrancados do solo infértil da incredulidade e do pecado, para sermos plantados junto ao ribeiro de águas limpas e revigorantes que nos renovará e fará dar frutos em todo o tempo, conforme é dito por intermédio do profeta Jeremias:
“Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o SENHOR. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto.” (Jeremias 17.7.8)
Não precisamos de religiosidade nem de moralismos vãos. Não precisamos de legalismo nem de sacrifícios. Precisamos unicamente entregar nossa vida inteiramente a Jesus Cristo, sendo lavados em Seu Sangue, purificados de nossos pecados, regenerados pelo Seu Espírito, pois desta forma nossa vida glorificará a Deus continuamente.

CONCLUSÃO

Somos cristãos, pois professamos fé em Jesus Cristo. Todavia, necessitamos fazer uma auto análise para sabermos se nosso coração está cheio da Graça, do Amor e da Palavra de Deus, ou se o tesouro ali guardado consiste em valores deste mundo caído.
O tesouro que guardamos em nosso coração define os frutos que vamos produzir durante nossa caminhada e o testemunho que daremos diante do mundo.
O Eterno deve ser o nosso Tesouro.
Cabe a nós a responsabilidade de nos humilharmos diante de Deus, reconhecendo nossa fraqueza e nossos defeitos, a fim de clamarmos que o Espírito Santo nos inunde com Seu poder, revigorando nosso ser, transformando-nos em árvores frondosas e frutíferas, para a glória de Deus.

“Se te converteres ao Todo-Poderoso, serás restabelecido; se afastares a injustiça da tua tenda e deitares ao pó o teu ouro e o ouro de Ofir entre pedras dos ribeiros, então, o Todo-Poderoso será o teu ouro e a tua prata escolhida.” (Jó 22.23-25))

“Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade. a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” (Gálatas 5.22-25)

Que o Espírito Santo de Deus transforme cada um de nós em árvores boas, frutíferas, com frutos vistosos e que glorifiquem a Deus.
 
José Vicente 
22.01.2017